36 depois de sua estreia, o clássico espetáculo musical de Chico Buarque tem nova montagem, agora pela ótica contemporânea do criativo Kleber Montanheiro, que assina direção, cenário, figurino e ainda interpreta a personagem Geni. O diretor da Cia da Revista coloca em cena seus 13 atores e abre espaço para mais cinco convidados. A estreia do espetáculo faz parte do projeto Chico 70, um diálogo com a obra de Chico Buarque, no ano de suas sete décadas de vida.
Com direção musical de Adilson Rodrigues, a Ópera do Malandro tem 18 atores em cena: Heloísa Maria (Vitória), Kleber Montanheiro (Geni), Adriano Merlini (Chaves), Natália Quadros (Lúcia), Pedro Henrique Carneiro (Barrabás), Pedro Bacellar (Big Ben), Paulo Vasconcelos (Johnny Walquer), Gabriel Hernandes (General Eletric), Gabriela Segato (Mimi Bibelô), Daniela Flor (Dóris Pelanca), Bruna Longo (Fichinha), Luiza Torres (Shirley Paquete), Nina Hotimsky (Jussara Pé de Anjo) e (os convidados) Flávio Tolezani (Max Overseas), Gerson Steves (Duran), Erica Montanheiro (Teresinha), Alessandra Vertamatti (Dorinha Tubão) e Mateus Monteiro (Phillip Morris).
Prostituição, contrabando e outras ilegalidades entrelaçam-se na trama da peça, que mostra um poderoso chefão chamado Duran (Gerson Steves) e sua mulher Vitória (Heloísa Maria) às voltas com uma encrenca. A filha Teresinha (Erica Montanheiro) está apaixonada por Max Overseas (Flávio Tolezani), malandro que vive de golpes e conchavos com o chefe de polícia Chaves (Adriano Merlini), o Tigrão. O casamento com a herdeira de Duran não passa de mais um golpe de Max e serve de gatilho para uma trama em que todos tentam tirar vantagem de todos.
O musical traz tipos inesquecíveis criados por Chico Buarque, como a travesti Geni (Kleber Montanheiro), aliada de Max. Eternizada pelo refrão “… joga pedra na Geni”, (da canção Geni e Zepelim, de Chico Buarque), a personagem ganha versão mais criminalizada com a Cia da Revista. “Ela é mais marginal, mais bandida. Nossa Geni é inspirada livremente na personagem Madame Satã, que habitou o Rio de Janeiro, virou filme protagonizado por Lázaro Ramos e vive até hoje na lembrança do povo brasileiro. O figurino atualiza Geni para os dias atuais, criando um visual mais andrógino, entre a masculinidade e a leveza feminina”, conta Montanheiro.
A montagem parte da associação da obra com o momento atual do País; a provocação de uma reflexão direcionada não ao momento político, como propôs Chico Buarque na versão original, mas sim ao indivíduo em seu contexto social. Os pequenos delitos, os acontecimentos do dia a dia que possibilitam a malandragem de cada um perante o outro e a sociedade em que esse malandro atual vive inserido.
Na releitura da Cia da Revista, o espetáculo privilegia o texto e a música de Chico Buarque. “A nossa versão é mais focada na obra do Chico, na palavra, numa direção mais sintética. O poder do capital, a luta de classes e as relações cordiais entre as personagens também são marcas desta montagem”, diz Kleber Montanheiro. O diretor conta que esta remontagem é atemporal. “Poderia acontecer tanto nos anos de 1940, onde é ambientado o texto original, como na década de 1970, quando foi montado pela primeira vez, ou ainda nos dias atuais”, completa.