EU VOU CONTAR UMA HISTÓRIA

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

- Até onde batem as asas desse pau-de-arara?

- Até ali pelas bordas de São Paulo

- Maravilha! E leva muito tempo?

- Tempo é o que ele menos leva, minha senhora

- E tem espaço pra mais três?

- Tem

- Vamo simbora, Dorotéia! Vamo simbora

- Eu num vô! Eu já disse que eu não quero ir!

- Mámenina, já tivemo essa conversa, num é? Vamo simbora, Dorotéia!

- Não!

- Vê se cresce, Dorotéia!

- Ande logo, minha filha, escute seu tio. Pegue suas coisas e vamo simbora, venha.

- Tia, por que a gente tem que ir?

Eu vou contar uma história

Que eu não sei se lhe interessa

Mas essa é nossa história

E eu vou contar mesmo assim

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

Eu vou contar uma história

Que eu não sei se interessa

Mas essa é nossa história

E eu vou contar mesmo assim

A cada adeus que se dizia

A cada nó que se franzia

E como só nunca se ia

Juntou-se o pó e se criou a poesia

A cada adeus que se dizia

A cada nó que se franzia

E como só nunca se ia

Juntou-se o pó e se criou a poesia

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Tem que ser tão!

TEM QUE SER TÃO

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

Eu vou buscar na memória

E vou rimando sem pressa

Pois quando eu falo do mundo

Revelo o que há em mim

- Oxe, mas você nem sabe a história que vai contar?

- Eu sei a história que vou contar, o que eu não sei é a história que você vai ouvir

Uma história boa de se contar

É conto que a gente não conta só

É de braço dado, de laço e nó

Que a linha da vida fica maior

Conto com você pra me ajudar

Sorte nessa vida é compartilhar

É aí que mora, ai, ai, ai...

O borogodó

- Eu? Como que eu vou ajudar a contar a história?

- É sobre isso mesmo que fala essa lenda. A história do Mágico Di Ó!

- Mágico? Tenha dó!

- Como é?

- Isso não existe não…

- Sabe que falando assim, tu fica até meio parecida com a protagonista?

- Fico, é?

- Sim! O jeito, o cabelo, o sorriso. Até os pulmão lembram um pouquinho

- Oxe

- E eu sei que lá no fundo ela sonha com alguma coisa muito especial

Todo mundo, no fundo, sempre traz consigo

Um sonho, uma vontade de querer ser

Quem disser que não é que tá mentindo

Ou então precisando parar pra ver

- Preste atenção, Dorotéia, é preciso fechar os olhos pra ver direito, ou melhor, pra ver como quiser ver…

- Ô, fulerage, agora ele vai dizer que essa história se passa num reino encantado…

- Exatamente!

- É o que?

- Um terra cheia de magia, berço da arte e tanta história bonita… Um reino chamado Nordeste brasileiro!

- Aqui?

- Um reino encantado, porém enfeitiçado por um maldição

- Que maldição?

- Uma maldição que levou toda a água dessa terra embora e fez ali ser um lugar tão sofrido, ser tão amargo e ser tão triste, que lhe deram o nome de ser-tão

Eu vou lhe pedir pra não enxugar

O choro que talvez venha por aí

O que o nosso cenário mais carece

É de alguém que o regue pra florir

E pra viver aqui

Tem que ser tão firme

Tem que ser tão forte

Onde sonhar é crime

E esperar é morte

Tem que ser tão duro

(Firme)

Tem que ser tão bravo

(Forte)

Onde não tem futuro

O povo nasce escravo

- No sertão é assim: é um ser-tão sem fim

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

- E o povo que vivia ali foi se enganando, se acomodando e se encostando. Óia só que ironia: até mesmo a sede por felicidade foi-se embora, o povo foi-se embora. E a esperança ficou lá fora no portão batendo palma, pedindo pra entrar. Mas só que ninguém mais vê razão pra acreditar, nem mesmo a protagonista

- Mas tu disse que ela sonhava com alguma coisa muito especial

- E sonha!

- Com o quê?

- Me diga você que parece ser tão parecida com ela

- Eu não sei

- Ah, que pena! Então parece que a nossa história termina aqui...

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

Eu vou contar uma história

Que eu não sei se interessa

Mas essa é minha história

E eu vou contar mesmo assim

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

- Então eu vou lhe dar uma história de verdade, mas não se esqueça: a realidade é uma coisa muito relativa

No sertão é assim

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

- Voar pra gente é impossível e mamão com açúcar pra patativa

É um ser tão sem fim

Tem que ser tão!

REPENTE DAS BRUXAS

- Se você quer mesmo um chuvão, só ele pode lhe dar

- E onde é que fica o incrível e poderoso Mágico Di Ó?

Fica bem longe, bem depois da ideia torta

Onde se guarda os arrepio e o que sobra da loucura

Atrás das brenha, logo depois das bimboca

É melhor caçar teu rumo e ir deixando de frescura

- Oxente, a gente demora tanto assim a chegar?

- A gente!

Esse caminho só se enfrenta é sozinho

Não posso te acompanhar

Mas te ofereço um sapatinho

É sapatinho

É sapatinho

É sapatinho...

- PARA!

Segue com fé

Nunca o tire do pé

Ele vai te proteger

Enquanto andar no tijolinho

- Tijolinho?

- É o tijolinho, satanás!

- Sim, Dorotéia, basta seguir a estrada de tijolinho amarelos e você encontrará o incrível e poderoso Mágico Di Ó!

Mas fica esperta, abre teu olho e não dá brecha

Que o sertão assim sozinho pode até se aumentar

E de repente, tu te vê toda embolada

Tão pequena e indefesa

Ninguém pode lhe salvar

- Eu não sei se essa é o melhor caminho, talvez a gente…

E não duvide, lembre sempre do que eu disse

Mas também não se esqueça do que aquela ali falou

Sou eu

Tome teu rumo, pegue a estrada

Mas divida a caminhada

Com qualquer um cuja vida se desbotou

- Você vai trilhar sozinha esse caminho, Dorotéia, mas eu vou te acompanhar sempre

- E eu também

Toda história tem dois lados

Toda glória, um "apesar"

Na sucedência de seus atos

Nós vamos sempre lembrar

Vou te mostrar as coisas ruins

Te lembrar dificuldade

Dizer onde o sapato aperta

- Pra quê tanta maldade?

Eu vou mostrar o lado bom

De cada coisa que vier

Mas cê não pode duvidar

Não pode perder a fé

- Hahahah fé…

- Como é?

- Eu vou sempre lhe lembrar dos bons motivo e essa só vai servir pra lhe dizer asneira

- Oxe, trago verdades apenas

- Lembre-se sempre, o medo e o sonho querem da gente a mesma coisa, mas cada um vem buscar à sua maneira

E quem vence essa batalha

Quem decide é você

Se ela vai voar de rodo

Ou se o mal vai prevalecer

SEGUINDO O TIJOLINHO

- Bom, Totó, lá vamos nós

Eu vou seguindo então meu tijolinho

Querendo ver onde é que isso vai dar

Vai chover muito, vai chover bonito

Que a asa branca vai ter que nadar

Eu vou seguindo então meu tijolinho

Querendo ver onde é que isso vai dar

Vai chover muito, vai chover bonito

Que a asa branca vai ter que nadar

PALHA NA CABEÇA

- Eita, macho véio, tu é lesa, hein, menina? Já falei umas três vezes!

- Não, fulerage, é que isso explica tudo

- Eu não tô entendendo é nada

- Exatamente!

É daí que brota tanta ignorância

Já entendi as faltas de educação

E essas mania de gostar de violência

Agora tudo apresenta explicação

Você tem palha na cabeça

E o que diz nem é por mal

Só quem tem palha na cabeça

Pode achar isso legal

- Como é?

- Eu já me liguei, seu Mamulengo, mas se despreocupe, que a culpa não é sua, pois...

Quem não estuda, quem não lê

Quem não procura

Quem não corre atrás de se informar

É obrigado a acreditar no que lhe contam

E um cabra assim é um cabra fácil de enganar

- Você só acreditou no que lhe contaram. Não é bicho ruim, só é ignorante!

- Escute aqui, menina

Eu tenho palha na cabeça

E esse pode ser o meu defeito

Eu tenho palha na cabeça

Mas isso não lhe deixa no direito

De achar que sabe mais, que sabe tudo

E que atrás de tanta palha, só existe um bobalhão

Tu me respeita e vai deixando de bestagem

Senão eu sou obrigado a lhe dar uma liç...

- Sh! Eu já tenho a solução

- Hein?

- Preste atenção, seu Mamulengo: meu nome é Dorotéia. Eu estou indo de encontro ao incrível e poderoso Mágico Di Ó, pedir que ele me ajude a trazer a chuva de volta pra cá. Assim ninguém vai precisar ir embora e eu finalmente vou poder ver um arco-íris cruzando esse céu inteirinho. Por que você não vem comigo também?

- Eu? Por quê?

- Oxente, se o cabra é capaz de me ajudar com uma coisa gigante, do tamanho do céu, ele pode te ajudar com uma coisa mindinha como um cérebro nessa tua cachola

- Oxente!

Nunca mais palha na cabeça

A sua própria opinião você vai ter

Nada de palha na cabeça

A melhor coisa desse mundo é conhecer

- Viu?

- Não, não, não! Parou, parou, chega! Não! Não! E eu lá preciso de cérebro? De Mágico? Eu tô bem como eu tô, eu não preciso de ajuda

Como é difícil essa tua arrogância

Essa mania de achar que é o melhor

É tanta asneira que tu fala que me cansa

Bem que eles dizem...

- Dizem o quê?

Que um cabra assim acaba só!

- Passar bem, seu Mamulengo

SEGUINDO O TIJOLINHO (A ESTRADA É GRANDE)

- Bem, pra que lado fica esse tal O Mágico Di Ó?

É só seguir então o tijolinho

Que a gente vê onde é que isso vai dar

A estrada é grande pra quem tá sozinho

Com você junto, ela há de se encurtar

É só seguir então o tijolinho

Que a gente vê onde é que isso vai dar

A estrada é grande pra quem tá sozinho

Com você junto, ela há de se encurtar

COMÉ QUE NÃO CHORA?

- Como é que você se enferrujou se a água todinha foi-se embora?

- Foi de tanto chorar

- Chorar? Chorar por que, home?

- Por ver tanta desgraça e não poder fazer nada

- Como é que alguém chora tanto assim?

Comé que não chora, menina

Diante da história que eu vou lhe contar?

Já peço licença e desculpa

Por tanta feiura que eu vou relembrar, viu?

Já faz tempo, mas um dia o povo

Já foi bem feliz aqui nesse sertão

E os cabinhas corriam e brincavam

Pra cima e pra baixo ao som do baião

Mas então a água foi-se embora

E deixou um rastro de dor pelo chão

Comé que não chora, menina

Vendo as criancinha tudo emagrecer, hein?

Comé que não chora, menina

Assistindo os bicho de sede morrer?

As árvores ressecando

O solo inteiro rachando

O povo se bandeando

Eu espiando e chorando

Lata não tem tumtum, não

Lata não tem tumtum ,não

Pois se a gente não chora pra fora

Menina, por dentro vai se enferrujar

Mas a coisa aqui foi tão séria

Que não deu pra nada eu chorar um mar, ai

- A última a ir-se embora, foi uma mulher com seu filho nas mãos, tão triste, mirrado, sem vida. E ela disse uma coisa que eu não esqueço não

Nesse mundo, é milhó ser de lata

No peito um buraco, pra que coração?

Comé que eu não ia chorar?

Comé que eu não ia chorar?

SEGUINDO O TIJOLINHO (MORRERAM AS FLORES)

- É verdade! Tá certo, eu vou com vocês!

- Pé na estrada!

É só seguindo o nosso tijolinho

Que a gente chega onde quiser chegar

Morreram as flores, só ficou espinho

Mas o tal Mágico pode ajudar

É só seguindo o nosso tijolinho

Que a gente chega onde quiser chegar

Morreram as flores, só ficou espinho

Mas o tal Mágico pode ajudar

É CORAGEM QUE ELA QUER

- Ah, você diz isso porque é jovem, bonita, humana. Vocês não sabem como sofre um bicho nesse mundo, minha gente!

Ora, ora, seu Leão

Deixe um pouco de reclamar

Cada um faz seu caminho

Não é justo comparar

Cada um vai ter a vista

Da montanha que subir

Mas uma coisa eu lhe garanto

Não vais ver nada daqui

Se a gente vive esperando

Mas não sabe o que esperar

Se só fala reclamando

E não faz nada pra mudar

Vai aos poucos se encostando

E nem percebe cochilar

E esse mundo sem parede

Gira e vem nos derrubar

Eu agradeço os conselhos

Quanta consideração

Mas o meu caso não tem jeito

Mas valeu a intenção!

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

Sou um bicho de visão

Olhe bem pra perceber

Estou a frente do meu tempo

E vou lhes falar porquê

É pensando no futuro

Que me ponho a relaxar

Assim vou me adiantando

Pro que ainda vou cansar

Um Leão desse tamanho

Que só quer dizer "miau"?

Que vergonha,

Seu bichano, para o reino animal

O rei perde a majestade

Sobra só cara-de-pau

Saiba que o tempo ruge

Essa vida não é mingau

- Ah, sou eu de novo!

Sabe que até me animo

Ouvindo umas coisa dessa?

Mas se o futuro é a morte

Eu não sei por que a pressa

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

- Vai, Leão!

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

A vida aperta, esfria, esquenta e afrouxa

É coragem que ela quer

SEGUINDO O TIJOLINHO (ONDE É O MEU LUGAR)

- Se eu disser que não vou, vocês vão cantar de novo?

- Vamos!

- Então eu vou

- Pé na estrada!

Eu vou seguindo então meu tijolinho...

- Gente, pera! será que a gente pode ir um pouquinho mais devagar?

- Pode

Eu vou seguindo então meu tijolinho

Querendo ver onde é que isso vai dar

Eu sou de lata, eu sou de palha e linho

E eu é que sei onde é o meu lugar

SE SÊSSE

- Mas como a gente vai saber que já chegou?

- Eu não sei, mas de alguma forma a gente vai saber

- Tá, mas como é que vai ser?

Se tudo sêsse do jeito que eu queria

Se esse Mágico realmente puder me dar

Um arco-íris que cruzasse o céu inteiro

E tanta poça... eita! Eu nem posso imaginar

Eu já escuto os trovão e relampejo

Seguido das risadas de quem foi, voltá

E esse sertão que é só poeira, langanhento

Até nos zóio água ia transbordá

Se molhasse, se lavasse

Se meu Deus furasse o ventre desse céu

E pingasse tanta vida

Até guarda-chuva ia virar chapéu

- Bem, já que a cabinha já disse que usará do seu pedido para satisfazer a população, eu vou me dar ao luxo de ser um tiquinho mais egoísta, visse?

- Como é?

- Eu usarei do meu coração para fins um pouco menos necessários

Depois de tudo, se tudo der mesmo certo

Eu vou correndo a tanajura balançar

Chorar agora só em caso de taboca

Só vou querer, só vou pensar em namorar

- Todo mundo merece um amor!

Se pulsasse, se batesse

Aqui no meu peito um compasso só

Se eu pudesse, se eu amasse

Juntaria as juntas com xodó

- Ai, gente, mas vocês são realmente muito empolgado! Olha, eu não tenho coragem nem de dizer o que faria se eu tivesse a dita cuja

- Ah, não, pode desembuchar, seu Leão!

- Deixe de ser tabaréu, rapaz

- Oxente, eu realmente não sei

- Ande, macho!

Se a coragem sonhada me fosse dada

Só vejo um jeito que seria governar

Assim a fera continua pendurada

E todos acham que está a trabalhar

- Que feiúra, seu Leão, escute...

Se eu pensasse, se eu tivesse

Miolos pra lhe dar uma lição

Saberia com que rima

E eu terminaria esse refrão...

- Um chuvão!

- Coração!

- Um colchão! É... quer dizer, determinação, oba!

- E eu, o maior mamulengo da região!

Se eu ganhasse, se me dessem

Tudo aquilo que sonho tanto ter

Tinha tudo e mais um tanto

Pois agora junto já tem você

Já tem você

Já tem você

Já tem você

ALUMIA, CLAREIA

- Vocês vão precisar acreditar!

Alumia e clareia

E aponte o caminho

Quem o sonho acompanha

Nunca fica sozinho

Alumia e clareia

Essa noite escura

Quem a fé tem por perto

Nunca teme as lonjura

- Dorotéia, a fé quando somada, multiplica, subtrai os obstáculos e divide a recompensa

- O que é isso?

- São pirilampos, eles vão ajudar você a encontrar o caminho!

Alumia e clareia

E aponte o caminho

Quem o sonho acompanha

Nunca fica sozinho

Alumia e clareia

Essa noite escura

Quem a fé tem por perto

Nunca teme as lonjura

Alumia e clareia

E aponte o caminho

Quem o sonho acompanha

Nunca fica sozinho

Alumia e clareia

Essa noite escura

Quem a fé tem por perto

Nunca teme as lonjura

E TODOS DIZEM Ó!

Tá pra nascer caboclo mais faceiro

De capacidade mais transformadora

Que a ilusão não ilusória

E com o poder da oratória

Ai ai! Ai ai!

Se o momento é feliz

Na garganta dá nó

O cabra fala bonito

E todo mundo diz: Ó!

E deixa a gente bocó

E todo mundo diz: Ó!

Ó, Ó! Ó, Ó!

Se a missão é conquista

É caçar um xodó

Ele rima no ouvido

E a menina diz: Ó!

E termina em forró

E todo mundo diz: Ó!

Ó, Ó! Ó, Ó!

Se alguma situação

Amarga que nem jiló

Ele diz a lição

E todo mundo diz: Ó!

E a gente chora um toró

E todo mundo diz: Ó!

Ó, Ó! Ó, Ó!

Faz verso pra toda gente

Desde os cabinha até a vovó

Pra todas as ocasiões

Desde velório a quiprocó

O seu estilo é misturado

Pós-moderno ao Rococó

Sobra tanto verso bom

Que pode até montar brechó

E antes que me acabe as rima

Eu vou dizer de uma vez só

O nome dessa criatura

Num redondilho menor

- Seu Osvaldo? Que é isso? Você é o Mágico?

Di Ó, Ó, Ó, Ó, Ó!

BOTE UM REPARO DIFERENTE

- É, cabinha, no fim é mesmo como dizia o poeta, num é? Tudo vale a pena se a alma não é... Se a alma não é frouxa!

Bote um reparo diferente

Ai, vê como quiser

Mas não basta ver sem crer

E não vale ser sem fé

Percebe o botão, se espetar a mão

Vai se retorcendo

Pois o jeito é crer que dá pra ser

E ir crescendo

Pois o jeito é crer que dá pra ser

E ir crescendo

É preciso ver que a maior riqueza

É feita do que não tem valor

Que o amor da gente é Fortaleza

E o conhecimento é Salvador

Entender o tempo de cada coisa

O tempo da gente não se avexar

Pois ninguém cultiva nem colhe nada

No seu terreno sem Se Arar

Pois a esperança que há num cabra

É a coragem dançando à toa

E ela só não seca se debaixo dos seus olhos

Sempre Há Lagoas

- A gente é filho da mistura. Não tem sotaque, não tem tempero. Só orgulho, respeito e muita admiração por cada nordestino arretado que deixou o seu lar pra contornar e construir o Brasil nas asas de um caminhão

Ao Patativa

Suassuna

Raquel de Queiroz

Luiz Gonzaga

Graciliano Ramos

Antônio Nóbrega

Câmara Cascudo

Jorge Amado

- E tantos outros, com licença e muito obrigado por nos mostrar que cada um consigo e com o outro tem sua parte. Que não existe solo tão pobre que não possa brotar arte. Lembrar que a seca pode ser fonte. Bom, essa foi a nossa versão da história. Quem não gostou que conte outra… Mas conte!

Bote um reparo diferente

Ai, vê como quiser

Mas não basta ver ser crer

E não vale ser sem fé

Percebe o botão, se espetar a mão

Vai se retorcendo

Pois o jeito é crer que dá pra ser

E ir crescendo

Pois o jeito é crer que dá pra ser

E ir crescendo

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Eu vou contar uma história

Que eu não sei como começa

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Eu vou contar uma história

Que eu não sei qual é o fim

Eu vejo o que há em mim

Nesse ser tão sem fim

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão...

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser tão

Tem que ser... Tão!