Gabriela é um raríssimo caso de personagem literário que entrou para o imaginário coletivo nacional. Saída das páginas do clássico romance escrito por Jorge Amado em 1958, ela ganhou as telas – em um filme e três novelas –, se transformou em ícone de brasilidade e alcançou imenso sucesso popular por diversas gerações. Pela primeira vez, a história de Gabriela é vista em uma versão para teatro musical, criada pelo diretor João Falcão.
Selecionada entre mais de 700 candidatas, a cantora paraense Daniela Blois tem o desafio de interpretar o papel-título, eternizado por Sonia Braga no cinema. O elenco conta ainda com Almério, Bruce de Araujo, Bruno Quixotte, Danilo Dal Farra, Eliane Carmo, Frederico Demarca, Guilherme Borges, Ingrid Gaigher, Isadora Melo, Juliana Linhares, Leo Bahia, Luciano Andrey, Luísa Vianna, Mauricio Tizumba, Marcel Octavio, Natasha Jascalevich, Rafael Lorga, Tamirys O’hanna, Thomás Aquino e Vinicius Teixeira.
Responsável pela direção musical, o músico Tó Brandileone traduz para os arranjos toda a mistura cultural abordada no romance de Jorge Amado. Desta maneira, as quase trinta canções se inseriram de forma orgânica à dramaturgia. ‘Algumas parecem ter sido compostas para o musical, tamanho o grau de integração com o que acontece em cena’, revela o diretor, que procurou fazer do repertório um verdadeiro caldeirão de ritmos brasileiros. Assim, ficam lado a lado canções clássicas de Dorival Caymmi (‘Vatapá’), Milton Nascimento (‘Cais’) e Martinho da Vila (‘Disritmia’), com pérolas pop de Arnaldo Antunes (‘Volte Para o Seu Lar’) e Marisa Monte (‘Vilarejo’).
Na história, Gabriela chega a Ilhéus em 1925, fugida de uma terrível seca no agreste. O sírio Nacib, dono do bar Vesúvio, a encontra no “mercado dos escravos” e a leva para trabalhar em seu estabelecimento. De início, ele não repara na beleza da moça, escondida sob os trapos e a poeira do caminho, mas logo ele se rende aos seus encantos, assim como boa parte dos vizinhos. Por conta da comida de Gabriela, o Vesúvio passa a receber cada vez mais clientes, todos seduzidos pelo tempero e pela presença inebriante da cozinheira. Após se casar com Nacib, Gabriela tem conflitos com as obrigações conjugais que vão de encontro ao seu espírito livre.
Temperada com muita sensualidade, a narrativa romântica de Jorge Amado mostra um rico panorama dos costumes da época e das transformações pelas quais a Bahia da década de 20 passava. Com a abertura do porto aos grandes navios, são inevitáveis o declínio dos coronéis, como Ramiro Bastos, e a ascensão de um novo perfil de empresário, personificado por Mundinho Falcão. Gabriela personifica ainda todas as rupturas trazidas por esta nova configuração de sociedade.