Livremente inspirado nas histórias de Madame Satã, personagem emblemático da vida noturna e marginal carioca do século XX, ícone da malandragem e da história do Rio, o espetáculo teatral “Satã – Um Show para Madame” traça uma profunda análise do humano e seu meio social. Com a atuação do ator, cantor e bailarino Leandro Melo, de “Dzi Croquetes” e “Elis, a Musical”, e com uma trilha ao vivo que é composta por ritmos da boemia carioca como samba, chorinho e MPB, a obra retrata a história não só do personagem icônico, mas também da Lapa e do Rio. Veja abaixo nossa entrevista com o ator:
CM: Como surgiu a ideia de fazer esse musical e qual relação que você tem com a personagem?
LM: Eu já tinha feito um show em homenagem a Lapa e isso me despertou uma curiosidade por conhecer mais sobre Madame Satã. Então comecei a ler sobre o mesmo antes de querer falar sobre ele em um espetáculo.
Nesse meio tempo fui fazer uma participação especial no espetáculo Cabaré Dulcina, ao qual o Alex, um de meus produtores, e Édio, meu diretor, faziam parte. Ai resolvi fazer uma homenagem a Madame Satã, fiz um figurino e fui. Eles gostaram da minha apresentação e me propuseram montar o que de inicio seria um espetáculo de música brasileira somente.
Mas no final não queria só um espetáculo sobre música brasileira e sim um musical. E como já havia feito o show em homenagem a Lapa, decidimos que seria sobre a Lapa. Mas como falar de Lapa e não falar de Madame Satã? Eu achava que já se tinha falado muito em Madame Satã, mas ai percebi que algumas histórias precisam ser revisitadas sempre. O trabalho agora era falar sobre Lapa e Madame Satã de uma forma diferente, musical. E foi o que fizemos!
CM: E por que fazer nesse estilo de monólogo?
LM: Para se contar uma história não se precisa de uma estrutura gigante, milhões de reais ou centenas de pessoas… E musicais também não! Não precisa ser uma regra sempre! Precisa-se somente da história e de uma pessoa apaixonada pela mesma para contá-la! E acho que a crise econômica pela qual estamos passando e a falta de patrocínio ajudaram. Não só eu como muitos outros artistas estão diminuindo suas produções.
CM: Sobre as músicas, você pode falar algumas que estão no repertório? E como foi escolhido esse repertório?
LM: Nosso objetivo era fazer uma bonita homenagem a João Francisco dos Santos (Madame Satã) e falar sobre nossa música popular brasileira, afim de fazer a minha geração não esquecê-la. Por isso decidimos que não poderia ser um musical autoral. Queremos que as pessoas, ao irem ver o espetáculo, saiam do teatro querendo conhecer ainda mais a história de nossa música e nossos compositores a partir do que apresentamos nos espetáculo. O nosso ponto de partida para o mesmo são os compositores que o próprio Madame Satã cita em sua entrevista para o Pasquim, e outros compositores da mesma época. A partir disso procuramos as canções que se encaixassem nas cenas escritas pelo nosso Dramaturgo, João Batista. E por final nosso diretor musical, Wladmir Pinheiro, escreveu uma música tema para o espetáculo (Corpo Fechado), que diga-se de passagem é linda! Ao todo São 14 canções. Algumas que podemos citar são:
Fui Pedir as Almas Santas – Clementina de Jesus
Batucada da Vida – Ary Barroso
Boneca de Pano – Assis Valente
A Dona do Lugar – Noel Rosa
CM: Queria que você também falasse um pouco da equipe… Como eles entraram nesse projeto com você?
LM: Eu fui convidado pelo Alex, meu produtor executivo, quando fui cantar no Cabaré Dulcina. Depois que decidimos o tema do espetáculo, comecei a fazer participações no Cabaré para divulgar o projeto, afim de conseguir patrocínio para o mesmo. O patrocínio não veio ainda, mas o Sesc gostou do projeto e resolveu nos apoiar. E ai as pessoas foram surgindo e se oferendo para fazer parte do mesmo, e eu aceitei com muita felicidade toda a ajuda oferecida. Me tornei produtor associado, depois veio Edio na direção geral, Wladimir na direção musical, João Batista Leite no texto, Alina Lyra (Alkaparra Produções) na produção geral, Marcelo Marques no cenário e figurino, Marcos Breda como designer de Som, Russinho na luz e mais uma infinidade de pessoas que ajudaram com as mais infinitas coisas. Sou muito feliz, pois estas pessoas acreditam em mim e no projeto. Mesmo ele sendo de baixíssimo orçamento. E sou muito grato a todo mundo que acreditou em mim.
CM: E você participou da criação do texto? Se sim, conte um pouco do processo.
Eu acho que um artista não tem que ser somente artista em cima do palco. Tem que ser atrás dele e principalmente saber como a máquina que o faz estar no palco funciona. E ai o processo criativo e produtivo vira uma grande troca de pensamentos, e no final quem ganha é o espectador.
Eu me intrometi em quase tudo neste processo, e com o texto não foi diferente. Fizemos várias leituras de mesa e eu e Edio fomos mudando e adaptando o texto conforme o surgimento das cenas. Muitas cenas foram criadas a partir de textos originais de livros e entrevistas do próprio Madame Satã. E a forma com que os textos verídicos e não fictícios foram dispostas no espetáculo, foram surgindo a partir do João e do que surgia na criação das cenas em sala de ensaio.
“Satã – Um Show para Madame” está em cartaz no Rio de Janeiro no teatro SESC Tijuca. As apresentações são de Sexta a Domingo, às 20h, e a temporada vai até o dia 29 de Novembro.