CHEGANÇA

Eu peço um bêjo e um pão de quêjo

Pra módi nóis a história começá

Peço humirdade… fica à vontade

Só que desliga a merda do celular

(...)

Essa cantiga é muito antiga

Parece inté dá fadiga

Mas é fácil acompanhá o violão

Difícil é vencê cansaço

E nunca saí do compasso

E sustentá as batida do coração

Eu peço carma e um pouco de arma

Pra contar tudo que aconteceu

É musicar, é autorar

Se ocê não gosta… pode ir com Deus!

(...)

Eu tive um sonho tão tristonho

Tão bisonho, tão medonho

Agora nunca mais me ponho a sonhá

Uma mania eu fui pegâno

Eu acabei me acostumâno

Eu mal bocejo e já quero me beliscá

História bem comum, de quarqué um

Nóis nem promete que vai emocioná

Independente, feita pela gente

Pra confundí e não pra expricá

(...)

Pois tudo turva, tudo entorta

E que nem naváia corta

Nosso peito em dois pedaço feito pão

Mas peito é mais delicado

É um cadinho compricado

E não se junta com mantêga ou requeijão

(...)

Essa cantiga / eu tive um sonho / pois tudo turva

É muito antiga/ tão tristonho / tudo entorta

Parece inté dá fadiga / tão bisonho / e que nem naváia corta

Mas é fácil / tão medonho

Acompanhá o violão / agora nunca mais me ponho a sonhá / nosso peito em dois pedaço feito pão

Difícil é vencê cansaço / uma mania eu fui pegâno / mas peito é mais delicado

Nunca saí do compasso / acabei me acostumâno / é um cadinho complicado

E sustentá as batida do coração / eu mal bocejo e já quero me beliscá / e não se junta com mantêga ou requeijão

Essa cantiga é muito antiga

Parece inté dá fadiga

Mas é fácil acompanhá o violão

Difícil é vencê cansaço

Nunca saí do compasso

E sustentá as batida do coração

RÁDIO / O VENTO

O vento é que nem a vida

E a gente planta sofrida

Se inventa de ventá forte

Parece que vai nos dobrá

No entanto se o verão estrala

E o sol nos racha a cara

Daí vento é artigo de sorte

Pois serve pra refrescar

(...)

Mió do que com o vento

Vou compará a vida com água

Ocê deixa escorrê o tempo

Pra tentá diluí as mágoa

RESPIRO FUNDO

Vou te levá pra conhecer o mar

Dá uns merguio profundo

Quem sabe nessa eu acabo a encontrá

O meu lugar nesse mundo

Respiro fundo

Respiro fundo e lá vou eu

Conto até três e

Respiro fundo e lá vou eu

Pega essa sua mania de rodá

Pra módi nóis rodá junto

Com ocê do meu lado eu não vou fraquejá

O medo já é defunto

Respiro fundo

Respiro fundo e lá vou eu

Conto até três e

Respiro fundo e lá vou eu

Nóis é feito que nem barde

(Não olhe pra trás, o que ficou já não é mais)

E o jeito é sardade cargar

(Guarda as lembrança)

Pois rega se cai

(Respira fundo e vai)

(...)

Respiro fundo

Respiro fundo

Respiro e lá vou eu!

TOADA DAS LÁGRIMAS

Lágrima, lágrima de emoção

Lágrima ainda fresca, o iá iá

Lágrima na promoção

Eu vendo lágrima

Lágrima de quem tem dó

Lágrima especiar de natar

Lágrima de um zóio só

Lágrima eu vendo e não falo potoca

Lágrima que vem pra se temperá

Já que a gente é feito pipoca

TOADA DAS LÁGRIMAS (REPRISE)

Lágrima, lágrima de lembrança

Lágrima de sardade, o iá iá

Lágrima de esperança

Eu vendo lágrima

Lágrima de quem é só

Lágrima que diz até ser feliz

Lágrima que nem toró

Lágrima, eu vendo e num importa a hora

Lágrima que vem pra nos ensiná

A se lavá por dentro e por fora

VAI LHE RASGAR

Essa hora ia chegá, eu sabia

Ocê ia querê bem mais que a mim

Mas antes do fim devo lhe alertá

Que o mundo é frio e cruel… vai lhe rasgá!

Pessoas são estranhas, dizem querê teu bem

Te julgam, te humilham, mas na igreja "amém"

E dizem: 'te amo, não vivo sem ti!

Mas passam-se os anos: 'ocê por aqui?'

E se ocê inová, vão te crucificá

Pois sê diferente é um crime

É triste, eu sei, alguém se preocupá

Não com o jogo, mas com o time

O mundo é um pouco mió do que a morte

Pois lá ainda da pra morrê

Mas se ocê não acredita e acha que tá com sorte

Bem, o que é que eu posso fazê?

Pessoas são coisa, coração são troféu

Cabeça, degrau, idéia, chapéu

O tempo é dinhêro, famía? Bobáge!

Papéis valem ouro e contatos, vantagem!

Mas mesmo assim, eu vou lhe alertá

Que o mundo é frio e cruel… vai lhe rasgá!

(...)

E antes do fim, devo lhe alertá

Que o mundo é frio e cruel… vai lhe rasgá!

BOA COMPANHIA

É mais fácil travar guerra, briga e luta

Do que encontrar bom companheiro de labuta

Por isso sempre há de ter muito cuidado

Com a pessoa que escolhe pôr do lado

Nesse mundo a gente tem mais de um bilhão

Tem rainha, tem soldado e tem ladrão

Mas cê é exatamente o que eu queria

Meio exquisito, mas é boa companhia

Quando cê encontra alguém

Que lá no fundo tem

Um pedacinho do que ocê é

Cê não deixa escapar

Se tiver que amarrar

Amarra que é pro seu bem

Um bom amigo serve para toda hora

Um companheiro lá pra lhe ajudar

Se você diz: 'eu matei alguém, e agora?'

Ele responde: 'eu tô indo pra enterrar!'

Quando cê encontra alguém

Que lá no fundo tem

Um pedacinho do que ocê é

Cê não deixa escapar

Se tiver que amarrar

Amarra que é pro seu bem

É mais fácil travar guerra, briga e luta

Do que encontrar bom companheiro de labuta

Por isso sempre há de ter muito cuidado

Com a pessoa que escolhe pôr do lado

Nesse mundo gente tem mais de um bilhão

Tem cabra-macho, arretado e vacilão

Mas cê é exatamente o que eu queria

Seja bem vindo à nossa companhia!

Junto!

Eu, você

Você e eu

Ela, eu e você

Ela, você e eu e ela

Nunca larga do meu pé

Assim eu não perco a fé

E te arrasto pra mais longe

LAMENTO

Eu vou chorá

Até secá as lágrimas no sol

E vou andá

Até vazá a dor que nem suor

Antes se oiasse lá na frente

No arto do céu, o sol eu via

Agora eu trago tanta água nos zóio

Que se eu fechasse, ai ai ai

Ai, chovia

Eu vou andá

Inté encontrá amigo mió

Não vou achá

Então vagá, inté o fim vou só

Antes se oiasse lá na frente

No arto do céu, o sol eu via

Agora eu trago tanta água nos zóio

Que se eu fechasse, ai ai ai

Ai ai ai

Ai, chovia

VAI SEM PRESSA

O mar nunca sai do lugar

Segura na mão a infância

Carrega o teu violão

Não importa qual é a distância

Cada passo aumenta a fé

Vai sem pressa de ser o que já é

Enfeita a vida com fita

Vai de frente, nunca de ré

Faz de qualquer canto, um ninho

Que o tempo é redemoinho

Não sou fôia, eu sou passarinho

Vai sem pressa de ser o que já é

Esse mundo a gente conquista

Do centro rumo às beira

E não há quem não resista

À boa arte brasileira

Levo comigo ternura e esperança

Sei que assim medo não me arcança

Com a água dos olhos regando o sertão

Mas sei que esse mundo é meu

Respiro fundo

Respiro fundo

Respiro fundo e lá vou eu

SE O MEDO BATER

Se o medo bater em mim

Eu me faço de tambor

Vou batendo por aí

Fingindo não sentir dor

Se o medo bater em mim

Eu escrevo então um samba

Vou sambando por aí

Mesmo com as perna bamba

Eu que tenho medo de escuro

Tenho medo de barata

Tenho medo de morrer

Tenho medo é de ficar pobre

Tão pobrinho, tão pobrinho

E não ter nada pra comer

Eu que tenho medo de cachorro

Tenho medo de palhaço

Tenho medo de apanhar

E eu que to aqui proceis cantando

Mas o maior dos meus medos

É no palco desafinar

Se o medo bater em mim

Eu vou bater nele também

Medo me deixa mais forte

E eu já não vivo sem

Se o medo bater em mim

Mostro que eu sei batuque

Ele pode me espancar

Mas coragem é meu truque

Ele pode me espancar

Mas ser dura é meu truque