Aconteceu no Domingo, 14 de Outubro, no Rio de Janeiro, a ultima apresentação de Quase Normal. O musical conta a historia de Diana, uma dona de casa convencional que sofre de uma desordem bipolar. O espetáculo estreou em julho no Teatro Clara Nunes e fez uma temporada de sucesso durante os 3 meses que ficou em cartaz. O Cena Musical entrou nos bastidores da produção e conversou com parte do elenco para saber como está sendo a despedida de suas personagens.
Carol Futuro foi Natalie, filha de Diana e que sofre com a bipolaridade da mãe.
CM: O que mais te marcou em fazer essa personagem?
CF: Acho que o que mais me marcou foi rever relações familiares. A oportunidade de, dentro do teatro, eu poder me reavaliar como filha, como irmã… Acho que a Natalie faz isso com a gente. Mesmo quem vê de fora também se recoloca no lugar de filho e pensa em como é sua relação com seus pais. Então essa foi uma grande chance de usar o teatro pra isso, pra me reavaliar.
CM: Qual a mensagem que o musical vai deixar pro público?
CF: Agora que tá acabando a temporada aqui no Rio, o que fica pro público carioca é o cuidado e o carinho que a gente teve com um tema tão pouco tratado, que é a bipolaridade. Acho que as famílias começaram a prestar mais atenção na realidade em que vivem as pessoas que tem essa doença. E além disso fica também uma mensagem de zelo pela família.
CM: Como está sendo a despedida do Rio?
CF: Sofrida! Bem sofrida! Vou deixar a Natalie dormindo, por enquanto, porque espero que a gente reestreie em São Paulo. Mas é sempre uma despedida. Sair de uma praça e ir pra outra é sempre uma ruptura. E o teatro é muito isso, tem muito dessas despedidas constantes. São os encontros nos inícios dos processos e depois algumas despedidas. Não só dos colegas, que vai ficar sem ver durante todos os finais de semana, mas também da personagem que viveu em você durante tanto tempo.
A atriz Vanessa Gerbelli, viveu a personagem Diana e contou como foi a experiência de fazer uma personagem bipolar.
CM: Como foi viver uma personagem bipolar?
VG: É interessantíssimo. A grande magia de ser ator é essa; a gente é capaz de conhecer o mundo e vivenciar situações que a gente nao vivenciaria se tivesse uma outra carreira. Então é muito rico. Eu estudei sobre bipolaridade, li muito, ouvi palestras e ouvi pessoas doentes. A vida é muito rica, tem tana coisa pra se aprender, então eu aprendi mais uma pouquinho e foi muito lindo, muito emocionante.
CM: O que foi mais desafiador nesse musical?
VG: O que é mais desafiador nesse musical é toda a carga dramática que ele contém, aliada a dificuldade técnica. É uma partitura difícil, muito complexa e belíssima, mas a gente não pode deixar que isso esteja em primeiro lugar, que essa dificuldade apareça. Tudo tem que soar muito natural, porque a interpretação tá em primeiro lugar, na verdade, o teatro tá em primeiro lugar nesse musical. Então isso foi o maior desafio e, ao mesmo tempo, o grande diamante da nossa peça.
CM: Você já fez outros musicais, já está na área há bastante tempo. Qual foi o diferencial desse musical?
VG: Esse musical é muito especial, toda a construção dele. Não foi a toa que ele ganhou o ‘Pulitzer’, um prêmio americano que enaltece os trabalhos de literatura, jornalismo e música. ‘Quase Normal’ é um musical muito inteligente, sensível… Ele aborda a bipolaridade, os dramas familiares, e questões humanas muito profundas, de uma forma muito precisa, de uma forma que ninguém deixa de se identificar. Então fala-se de apego, da morte, do casamento e muitas questões que o mundo contemporâneo tá colocando em xeque. Por isso a concepção desse musical é brilhante e eu tenho muito orgulho de ter participado e ter feito a Daiana.
CM: Como está sendo a despedida?
VG: Triste! Porque é um mergulho, e você vai tendo que subir com muita rapidez, mas eu queria continuar mergulhada. Eu acho essa peça muito linda e a resposta que o público tem é muito bonita pra gente. É um presente você ver o envolvimento do público porque você se sente oferecendo uma coisa de muito valor pras pessoas. É um espetáculo que tá trazendo discussão, tá trazendo emoção e tá transformando as pessoas de alguma forma. Então é difícil me despedir disso, porque eu sei que to fazendo uma coisa muito bacana.
Victor Maia interpretou o personagem Henry, namorado de Natalie, e também conta sua experiência no musical.
CM: Qual o diferencial desse musical em relação aos outros que você já fez?
VM: Eu costumo dizer que o Quase Normal é o musical “menos musical” que eu ja fiz. Nao pela sua estrutura musical, obviamente, já que ele é uma Opera Rock, mas por ser um espetaculo onde não há virtuosismo. Não existe numero musical onde o ator se coloca no centro do palco, canta apresentando a sua tecnica.. o seu belting. (risos) É um espetáculo que foca no homem. No comportamento, Nas relações e acima de tudo no sentimento que os circunda. Não tem gente voando… cenarios gigantescos… coreografias rebuscadas. Tem texto em forma de musica (ou musica em forma de texto). Tem uma historia contada por poucos personagens que vivem intensamente aquela situação. É muito emocionante. Visceral. Dessa forma ele toca o expectador e promove uma sensação em quem assiste diferente das que ele viveu em outros musicais americanos que tenha assistido anteriormente. Acho que esse é o grande diferencial.
CM: Qual foi o segredo do sucesso desse musical?
VM: O Tadeu (Aguiar, diretor do espetaculo) costuma dizer que teatro se faz com amigos. Isso soa um pouco “panelinha”… mas de certo modo eu entendo ele. Pelo menos nesse caso. Um musical que conta uma historia tao intensa é necessário fazer perto de gente querida. Gente que se confia. O elenco… a producao… a direcao… todos eramos como uma familia. Que ri… se sacaneia… briga… chora… juntos. Eu acredito que nos construimos durante o processo de ensaios uma relação de extrema confianca. Esse foi o primeiro passo para o nosso sucesso. Somado isso a uma obra tão humana, como eu ja disse anteriormente, e a sensibilidade de um diretor apaixonado pelo que faz.. nao podia resultar em outra coisa senão sucesso.
CM: Quase normal acabou agora e você ja vai imendar o Alo, Dolly. Como ta sendo essa transiçao?
VM: Eu to louco! Porque são musicais completamente diferentes. O anterior é pop rock…. o novo é clássico. A diferença na colocação vocal… na postura em cena… é tudo diferente. Eu entrei no Alo, Dolly há uma semana substituindo um ator que ocupava o cargo de Swing. Essa função é aquela onde um artista (genio) precisa saber PERFEITAMENTE o papel de varios atores que estao em cena para substituí-los em qualquer eventualidade. No caso do “Dolly”, eu preciso aprender a atividade de 5 atores cantores, alem do lugar do swing de bailarino que esta em cena no primeiro ato e caso tenha que substituir alguem eu preciso ocupar seu lugar em cena. Ou seja… nada facil. Ainda mais se tratando de um musical coreograficamente complexo, onde cada ator faz uma coreografia particular, criadas pela incrível Fernanda Chama. Isso resulta em 6 espetaculos diferentes que eu tenho que aprender. Mas eu adoro desafios, e trabalhar com o Miguel e com a Marilia que sao artistas que eu admiro profundamente compensa e faz valer todo e qualquer suor!
‘Quase Normal’ deve chegar a capital paulista no início do ano que vem.